No passado dia 23 de Abril teve lugar o I Colóquio Rugby Clube de Santarém com a participação de vários convidados e ainda gente da casa. A assistência não era muito numerosa mas a discussão e sugestões foram fantásticas. Pedi à Joana Peres que fizesse um relatório que agora divulgo...
Uma manhã onde a partilha de ideias trouxe vontade de traçar um novo rumo
No dia 23 de abril realizou-se, em Santarém, o primeiro colóquio aberto ao público, patrocinadores, agentes políticos, pais e atletas do Rugby Clube de Santarém. Objetivo: como fazer crescer a modalidade e o clube na cidade de Santarém. Foram vários os oradores que ajudaram a repensar numa estratégia, clara, para o sucesso do RCS.
Inês Barroso, vereadora da Câmara Municipal de Santarém (CMS), deu início aos trabalhos deste colóquio com uma breve análise em relação ao rugby e à cidade de Santarém. Veio, uma vez mais, reforçar a ideia de que a autarquia “Quer rugby em Santarém!”. Uma apresentação onde os valores do rugby foram, diversas vezes, abordados e enaltecidos para as competências formativas e sociais na educação das crianças. “Defendemos que o rugby é, efetivamente, um polo dinamizador de educação”, afirmou a vereadora. Sendo um desporto coletivo tem caraterísticas fortíssimas de interligação entre todos os valores de um desporto coletivo e a sua prática promove uma ocupação ótima dos tempos livres, promove também estilos de vida saudáveis. “É uma modalidade que complementa a parte curricular da escola em termos de valores e de princípios; respeita capacidades individuais; promove o espírito de família que é um dos pontos muito fortes do rugby e podemos verificá-lo em Santarém e não só, é que o rugby une a família em torno da sua prática dos jogos, das competições e dos convívios e, obviamente, promove nos seus praticantes em termos, também, da sua parte psicológica, autoestima, autoconfiança e outras qualidades”.
Falando de Santarém, Inês Barroso, confirmou que há perspetivas de continuidade de um trabalho que tem de ser partilhado, tem de ser conjugado entre todos – agentes desportivos, autarquias, os pais, a população em geral. E deixou uma esperança: “o sonho é conseguirmos encontrar formas de fazer uma sede do RCS mas para concretizá-lo é preciso continuar a trilhar o trajeto que os agentes têm feito até aqui”.
António Féria, antigo treinador do rugby em Santarém, falou sobre o “Início do Rugby em Santarém”. A história do rugby na cidade afinal já conta com quase meio século, foi o seu pai – Lourenço Féria – quem “trouxe” a modalidade para Santarém. Professor na Escola Agrária, que vinha de agronomia, lançou o desafio a alguns alunos para praticarem rugby e a adesão foi grande. “O rugby em Santarém nunca morreu, apenas passou pela Escola Agrária, pela União desportiva de Santarém, pela Académica de Santarém e em 1995 aparece o Rugby Clube de Santarém”, relembra António Féria.
As condições, para a prática do rugby, nunca foram as melhores mas mesmo assim foram vários os jogadores, na altura, chamados à seleção e tiveram dois internacionais juniores. Não foi por mero acaso que adotaram o lema “Rugby, uma escola de vida”. Afinal, a garra e determinação dos treinadores e jogadores ultrapassaram todos os obstáculos. António Féria, não esquece o ponto mais alto durante a sua experiência como treinador das equipas de formação: “em 1990 fomos incluídos numa digressão, com os juniores, a França em que encarámos uma realidade completamente diferente”. Em Agent, numa pequena cidade francesa, havia vários campos de rugby “coisa rara e nunca vista em Portugal”. Esta digressão ficou na memória de todos e António Féria deixou um desafio à direção do RCS: “deviam voltar às digressões internacionais”.
"Falar de rugby em Santarém é sempre uma paixão", assim começou o antigo treinador Grimaldo Alhandra. Um homem que esteve ligado ao rugby durante 12 anos. Recordações não lhe faltam: "foi uma época estrondosa, lembro-me que os juniores ficaram apurados para um torneio com o Belenenses, numa altura em que ninguém conhecia o rugby de Santarém". Este antigo treinador, guarda com muito orgulho ter pertencido a este clube e considera o rugby "uma das modalidades mais nobres".
Carlos Gonçalves Reis, veio partilhar aquilo que viveu no Rugby de Cascais e dar o seu contributo de “Como fazer um clube de rugby crescer”. Sim, é verdade, nem sempre o Rugby de Cascais viveu tempos áureos. “Em 2004/2005 o Dramático de Cascais quase fechou as portas.” Porquê? “Tudo começou de forma amadora, com um projeto de gestão assente em meia dúzia de pessoas que faziam tudo, a direção foi a mesma durante 20 anos”. Em 2005 o desgaste era notório e, segundo Carlos Gonçalves Reis, foi preciso olhar para o clube e perceber para onde queriam ir, o que queriam ser. Assim foi, “fizemos a escolha de sermos um clube de competição e hoje temos mais de 300 atletas”.
Para alcançarem o sucesso foi preciso repensar a estratégia de gestão, formação, muita organização, dedicação, planeamento e a ajuda de todos. “Temos, inclusivamente, uma área de voluntariado (mães de atletas) que colabora em várias tarefas”. Dar um bocado de cada um, é o lema deste clube.
O exemplo do Rugby de Cascais foi bastante útil para repensar aquilo que falta ao RCS. O antigo jogador e treinador do Dramático de Cascais lançou um reto: “é preciso repensar, saber para onde queremos levar o clube e trabalhar para lá chegar”. E acrescentou: “um erro que não queremos repetir – um dos maiores índices que provoca o abandono de atletas – é a qualidade dos treinadores. Quanto melhores treinadores, menor é o abandono”.
“Como pode a FPR ajudar os clubes na sua organização” foi outro dos temas abordados neste colóquio. Pedro Gonzaga, mais conhecido por PTT, deu a cara pela Federação apesar de conhecer muito bem o RCS: Afinal, foi um dos fundadores do clube, em 1995, e jogou e formou vários atletas durante anos. “É preciso uma organização para o clube para que não sejam sempre os mesmos a trabalhar; precisamos de definir o que queremos e é obrigatório ter bons treinadores com formação”. Para baixar o abandono da modalidade, PTT, lançou uma ideia: atribuir aos jovens mais responsabilidades (ajudar a treinar outros escalões, por exemplo). “Todos queremos que o RCS cresça mas para isso é preciso pedir ajuda. Fala-se muito internamente e devia-se falar mais abertamente”.
Para crescer, há uma ideia em cima da mesa que poderá trazer mais atletas e dar maior visibilidade ao RCS: a organização de um Grande Torneio Nacional em Santarém. “São momentos que marcam e muito tanto os atletas como o próprio clube”, concluiu PTT.
João Diogo Fonseca, pai de atletas do RCS, falou da temática “Como podemos ajudar”. A verdade é que se centrou no tema “Porque devemos ajudar”.
João Diogo nunca jogou rugby e veio parar ao RCS através dos filhos. “É um jogo complicado mas é uma modalidade com valores que queremos da vida: justiça, bravura, humildade, esforço, lealdade, equipa e integração”. Para este pai, há um conjunto de valores que fazem falta na vida e que existem no rugby e “nos ajudam a educar os nossos filhos”. “É justo que os pais possam devolver ao RCS aquilo que o rugby tem dado aos nossos filhos”. E deixou uma proposta: distribuir o “peso” que envolve o rugby por vários pais.
“Como consolidar parcerias” ficou a cargo de Jorge Neves, administrador da Agromais e patrocinador do RCS. Para Jorge Neves, é evidente que um clube tem de ser gerido à semelhança de uma empresa: “sem estratégia não se vai a lado nenhum. É urgente ter uma visão clara de estratégia”.
O patrocínio ao RCS nasceu de um mero acaso – apesar dos valores do rugby representarem a responsabilidade social da empresa – quando estava a ver um jogo e viu uma equipa com um patrocínio de produtos agrícolas. “Pensei: porque não a Agromais? Afinal, os valores do rugby são muito parecidos com os valores dos agricultores: a capacidade de resiliência e a paciência.” O administrador da Agromais revê-se muito naquilo que se pretende desta parceria Agromais/RCS: “repartição de responsabilidades”. E deixa um alerta: “chegou a altura do RCS ter uma estratégia clara”.
Para fechar o colóquio, George Stilwell, Presidente do RCS, falou do “Presente e Futuro”. Para o presidente, o RCS poderá ser uma escola de rugby e deve continuar a apostar, essencialmente, na formação: “a estratégia do RCS não passa, claramente, por ser um clube de contratar grandes estrelas do rugby”.
Para o futuro, ideias para o RCS não faltam. “Queremos melhorar as infraestruturas; criar um centro de estágios, organizar campos de férias de rugby, receber escolas e ATL’s, divulgar mais e melhor o rugby, atrair novos atletas, voltar às digressões internacionais (uma ida à Irlanda já em agenda), envolver mais as famílias e desenvolver merchandising do clube”, afirmou George Stilwell.
No primeiro colóquio do RCS (esperam-se mais), houve ainda espaço para discussão e daí nasceram novas ideias: trazer “estrelas” do rugby nacional para treinar alguns escalões do RCS; os atletas levarem a modalidade aos meios rurais através de jogos de demonstração; desenvolver um plano nutricional entre tantas outras.
Quem não pôde estar presente, também deixou o seu contributo para o futuro do RCS. George Stilwell apresentou algumas sugestões enviadas por email:
Sugestões
Mais ações de sensibilização nas escolas;
Fortalecer a relação das equipas com os pais;
Atletas mais velhos ajudarem a treinar os mais novos
Organizar um torneio nacional
Fazer treinos em alguns jardins da cidade de Santarém para captar mais jovens
Criar uma caderneta de cromos da equipa
Pais colaborarem mais com os treinadores
Organizar ações de formação interna
No fim do colóquio os participantes juntaram-se no Jardim da República para um cocktail, em jeito da famosa 3ª parte dos jogos de rugby.
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